O pasto verde e farto é um colírio para os pecuaristas. E com razão, visto que a nutrição é o fator determinante para maximizar o potencial genético do rebanho. Contudo, é comum encontrarmos fazendas com índices de produtividade aquém do esperado — inclusive na época das chuvas — devido à falta do manejo de pastagem.
O manejo do pasto consiste na adoção de práticas muito simples que auxiliam o produtor a aumentar a eficiência da sua produção, sem custos adicionais. Para tanto, é essencial ter conhecimento sobre as condições ambientais da região, bem como sobre a biologia da forrageira e o comportamento dos animais.
Assim, o gestor escolhe o sistema de manejo e elabora um planejamento que garanta uma dieta rica para o gado sem o comprometimento do pasto, ao longo do ano todo. Mas como contornar a sazonalidade e aproveitar o máximo das forrageiras? Continue conosco, pois é sobre isso que falaremos a seguir.
Em resumo, o manejo de pastagens é o conjunto de intervenções que tem como objetivo atingir a maior quantidade de carne e leite por área, sem prejudicar o desenvolvimento do pasto nem a qualidade do solo.
Dessa forma, promove-se uma alimentação em abundância para os animais, com uma produção constante de forrageira por unidade de área, conservando a qualidade do solo e, consequentemente, evitando a degradação do pasto.
Basicamente, existem dois sistemas de manejo de pastagens. Veja a seguir.
Nesse sistema, o rebanho permanece na mesma área de pasto durante o ano todo. É utilizado quando as forrageiras são nativas ou naturais, e sua taxa de produtividade é baixa.
Nesse caso, o pasto é dividido em piquetes, que são utilizados de forma alternada, sendo definidos os períodos de ocupação (quando o gado está consumindo determinado piquete) e o período de descanso (quando o rebanho não está em determinado piquete).
Essa prática permite que a forrageira se recupere do pastejo e do pisoteio e seja consumida novamente no futuro. O sistema tem alto índice de produtividade, principalmente quando são utilizadas pastagens de alta produção, como as do gênero Cynodon, Panicum e Brachiaria.
O produtor precisa ter em mente que o manejo de pastagem é, essencialmente, a administração de duas necessidades conflitantes: a da planta, que precisa das suas folhas para se desenvolver, e a dos animais, que precisam dessas mesmas folhas para a sua dieta.
Como resolver esse embate? A resposta é simples: aliando o comportamento dos bovinos ao período de maior produtividade da forrageira. Falaremos sobre isso a seguir.
No Brasil, a época das chuvas ocorre entre outubro/novembro a março/abril. Esses meses são marcados pela estabilização do regime pluviométrico, pelas temperaturas elevadas e pelo fotoperíodo longo. É o momento em que as condições ambientais estão extremamente favoráveis para o desenvolvimento e o crescimento rápido das plantas e, portanto, o produtor deve aproveitá-lo.
Como mencionamos, o sucesso da produção está na entrega de um pasto com alto valor nutritivo ao mesmo tempo em que se mantém a produtividade da vegetação. É sabido que os bovinos preferem plantas com folhas verdes e jovens e que evitam as mais estruturadas, com colmos fibrosos. Eles buscam, simplesmente, por alimentos que facilitem a sua bocada.
Além disso, o amadurecimento das plantas resulta na diminuição do seu valor nutricional e no tombamento da vegetação, que também não é consumida pelos animais nesse estado.
Ora, com essas informações, fica evidente que o melhor período para o gado entrar no pasto é quando há o máximo de acúmulo de folhas verdes, e não quando há muita produção de massa de forragem. O pastejo rotacionado permite que os animais tenham acesso às plantas em seu momento mais nutritivo, durante toda a estação.
A época das águas propicia o surgimento de outras plantas no campo e, consequentemente, a ocorrência de pragas. Por isso, além de fazer o controle da performance dos animais e da altura da forrageira, o produtor deve adotar as seguintes práticas:
A época da seca (inverno) é marcada pela menor disponibilidade de água no solo e pela redução do fotoperíodo. Esses fatores dificultam a recuperação do pasto e afetam a produtividade dos animais. É preciso evitar que eles percam peso, pois na estação chuvosa qualquer ganho indicaria apenas a recuperação do que foi perdido.
Entretanto, cabe ressaltar que se o gado mantém ou ganha peso (ainda que pouco) no período da seca, já é uma grande vantagem, visto que seus índices de desempenho serão maiores na volta das águas.
Dessa forma, quando o pasto não recebe o manejo correto para suportar o período da seca, o pecuarista corre o risco de não ter forrageira suficiente para fornecer ao rebanho tanto na seca, quanto no retorno das águas. Isso porque a vegetação pode não ter reservas suficientes para rebrotar e, nessas condições, inicia-se o processo de degradação.
A prática da rotação do pastejo baseada em dias fixos tem se mostrado ineficiente, pois depende da época do ano e das condições de crescimento das plantas, o que leva a perdas na qualidade e na quantidade de produção de forrageira.
Para contornar esse cenário, a estratégia que tem apresentado melhores resultados é a rotação de pastejo baseada na altura do pasto. Nesse caso, semanalmente o produtor utiliza a régua para medir a altura das plantas que estão no período de descanso para calcular o número de dias necessários até que o próximo piquete esteja nas condições ideais para receber o rebanho.
Como cada forrageira tem seu tempo de desenvolvimento e sua altura específica, é difícil determinar os parâmetros para o pastejo. Porém, o produtor pode avaliar a arquitetura da vegetação: no momento em que as primeiras folhas começarem a se dobrar e a pastagem perder o aspecto de folhas espetadas, deve-se entrar com os animais na área.
Veja a seguir as alturas recomendadas para cada forrageira:
Capim | Entrada | Saída (maior fertilidade) | Saída (menor fertilidade) |
Marandu | 25 cm | 15 cm | 20 cm |
Xaraés | 30 cm | 15 cm | 20 cm |
Piatã | 35 cm | 15 cm | 20 cm |
Decubens | 20 cm | 5 cm | 10 cm |
Humidícula | 20 cm | 5 cm | 10 cm |
Massai | 45 cm | 20 cm | 30 cm |
Mombaça | 90 cm | 30 cm | 50 cm |
Tanzânia | 70 cm | 30 cm | 50 cm |
Zuri | 75 cm | 30 cm | 40 cm |
Aruana | 30 cm | 10 cm | 15 cm |
Estrela | 35 cm | 15 cm | 25 cm |
Tifton-85 | 25 cm | 10 cm | 15 cm |
Andropogon | 50 cm | 25 cm | 35 cm |
Além dessa prática, é indispensável que o produtor faça um planejamento das estratégias nutricionais para evitar a perda de peso dos animais, complementar a sua dieta e amenizar os danos ao pasto, se for necessário. Dessa forma, deve-se fornecer:
O adequado manejo do pasto é extremamente importante e essencial para assegurar a eficiência e a sustentabilidade do sistema de produção. Quando realizadas da maneira correta, as intervenções proporcionam o aumento da produtividade de leite e de carne, e tem-se o aproveitamento máximo dos recursos, juntamente à prevenção de erosões e da compactação do solo.
Por fim, é sempre bom lembrar que as tecnologias e as boas práticas de manejo de pastagens estão disponíveis para intensificar a produção e promover a prosperidade da fazenda. O produtor que não souber aproveitá-las corre o risco de ficar para trás na constante busca pelo aumento da produtividade e perder seu lugar no mercado.